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O Que Eu Quero Importa Também. Tech para Além dos 50

Texto de Claudia Nascimento

Sempre gostei de escrever, desde muito nova. Mas quando comecei a pensar nesse texto fiquei muito ansiosa porque sou da época em que não era de bom tom falar de si, nem mesmo em família. Sendo mulher então, quase uma exigência de bom comportamento. Nasci em 1964, tenho por tanto 55 anos. Nasci e cresci numa cidade pequena no interior de SP, casei e fui morar em Brasília onde tive 3 filhos. Quando meus filhos já estavm adultos voltei para minha cidade onde me separei. Então outra história começou…

Hoje penso como a vida das mulheres sempre foi dura e trabalhosa, minha avó trabalhava na roça levando os filhos pequenos, minha mãe costurava, criava galinhas e vendia as verduras do quintal pra ajudar nas despesas, mas são de uma geração considerada apenas como donas de casa. Eu queria ser dona de casa, me casei e logo tive dois filhos. Adorava cuidar pra que tudo funcionasse bem e nem me importava quando as amigas me incentivavam a trabalhar fora de casa

Se tudo que contei lembra sua mãe, avó, tia ou você mesma é porque é uma história absolutamente comum. Mulher que acredita que seu principal papel é dar suporte para que os outros sejam felizes, nada além disso. Quando me vi sem o casamento, sem casa porque não tinha mais condições de pagar aluguel e fui morar com meus pais eu pensei que minha vida tinha acabado. O que fazer, como ganhar dinheiro, cuidar dos filhos, trabalhar e não me sentir um fracasso total?

A parte mais surpreendente estava para começar, enquanto eu chorava todas as madrugadas acordada pela angústia e o medo. Meu filho me incentivou a fazer um curso, me atualizar, me ajudaria a me recolocar. Sempre quis estudar na ESPM e foi ela que escolhi para um curso online de Inbound Marketing que nunca tinha ouvido falar a respeito mas me agradou a descrição. Então descobri o nome das coisas que queria aprender, a primeira janela se abriu. Não parei mais de estudar.

Digo que tive uma epifania visitando o CUBO Itaú em SP, ( minha segunda janela), tinha lido sobre a criação desse espaço e quis conhecer. Em uma visita guiada, auditório cheio, comecei a ouvir as startups descreverem o que faziam, mostrar o que estava acontecendo no mundo e fiquei tão impactada que me lembro desse momento até hoje. O mundo estava assim? E como na minha cidade ninguém falava sobre isso? Como as pessoas da minha idade vão se integrar a ele? E os mais pobres? Vai ser mais para quem já tem muito? Ah não!

Desde esse dia tudo que tenho feito é buscar um caminho onde mais pessoas possam entender, usar, usufruir dos benefícios que a tecnologia traz. OK, alguns da minha geração vão dizer que o mundo era maravilhoso na nossa época e que a tecnologia acabou com tudo. Não acredito nisso e em outra ocasião digo o motivo.

A partir do meu primeiro curso, fiz Marketing Digital, Plano de Marketing, Negócios de Impacto Social, Jornada do Cliente e descobri que quando dominava uma ferramenta outra mais atualizada já estava em uso. Sempre fiquei longe de tecnologia, achava muito complicado aprender, sem nenhuma lógica, não tem nada desenhado, escrito, como as pessoas sabem que tocando em determinado lado da tela do celular ele vai pra onde elas querem? Olhava os smartphones, tela preta, um monte de ícones, muito medo de mexer. E se sumir tudo que está dentro? E se “pegar” um vírus? E se aceito algo que não quero sem saber? Não, esquece, nunca vou aprender isso, apenas receber ligações e fazer quando precisar, nada mais.

Mas… Fazendo os cursos buscava sempre a melhor nota, aprender direito, dominar o assunto e a cada passo dado eu festejava como se tivesse ganho na loteria. Sozinha, pulando, me dando beijos no espelho e acredito que meu cérebro foi entendendo que aprender me faz feliz e parou de ter tanto medo, passou a me desafiar e fui andando até onde estou.

Onde estou? no Linkedin, Instagram Facebook, escolhida pra um programa de aceleração de startups pelo Sebrae SP, única mulher do grupo, com idade para ser mãe de todos, inclusive do meu consultor, fazendo mentoria, participando do Google Campus, reclamando se não sou selecionada para algum programa que acredito ser bom e tomando coragem pra contar tudo isso e como se não fosse o bastante estou deixando meu cabelo branco, sem nenhum motivo além do fato de que é o que eu quero fazer e porque descobri que o que eu quero importa também.

Então é isso! Fico muito feliz quando aprendo e mais feliz ainda quando ensino alguém e em ter descoberto que a vida não termina nunca, a gente que decide estacionar. O futuro mais do que nunca depende de nossas características mais humanas, como empatia, curiosidade, generosidade, criatividade e elas não dependem de idade ou geração. Eu não nego quem sou ou minhas escolhas mas a partir delas sigo em frente levando comigo outras pessoas que querem construir seu futuro e não apenas recebê-lo pronto.

Texto de Claudia Nascimento
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