Eu começo te perguntando, você perdeu sua virgindade?
Talvez o que passe pela sua cabeça e pelo seu corpo, primeiro, seja o incômodo desta pergunta… Depois, podem vir as duas prováveis (e um tanto óbvias) respostas: sim ou não. Pode ser improvável que sua resposta seja: não sei.
Depois pode ser que você pense… mas de que virgindade ela esta falando? Daí pode vir uma outra resposta (um tanto óbvia) é claro que ela deve estar falando de sexualidade. E esse raciocínio talvez siga o mesmo fluxo do anterior, mais uma vez os binários sim e não como resposta.
Antes de conseguir fixar minha linha de pensamentos na virgindade em si, o verbo que a precede prendeu a minha atenção e me fez questionar, profundamente, por que ele sempre esta à frente desse substantivo. Essa ideia de que a gente tem “algo”, que depois de um acontecimento, “se perde” e deixa de ser nosso deu um nó na minha cabeça. Ah! E além de deixar de ser nosso, ele acaba pertencendo a pessoa que o tomou de nós.
Parti, então, para a palavra virgindade, que tem sua origem no Latim
virgo.
Virgo deriva de
vireo: “ser verde, fresca, florescente”. Em última análise figurativa, pureza. O nó na cabeça, ao invés de afrouxar, ficou mais atado. Então eu tenho algo, que é fresco, florescente, puro e que depois de um acontecimento, eu perco, deixa de ser meu e passa a pertencer a quem o tirou de mim.
Começou a fazer menos sentido ainda. Tem alguma coisa nessa história repetitiva que me (nos) contaram que começou a ser desconstruída a partir das minhas observações.
Toda essa questão me veio a tona uns dias atrás quando terminei o livro
“O anel dos Nibelungos”, ópera escrita pelo compositor
Richard Wagner, em quatro tempos: O ouro do reno, A Walkiria, Siegfried e O crepúsculo dos Deuses. Wagner tinha uma característica não muito comum aos compositores daquela época, ele mesmo escrevia os livretos das suas óperas.
A saga é magnífica e fala, figurativamente, sobre a própria busca fundamental humana: o amor e, sobre o seu maior adversário, o desejo que se instaura quando entramos em contato com o poder. Sabe aquele desejo de mais e mais com aquela pitadinha de apego a tiracolo? Pois é, é esse mesmo.
O segundo e o quarto ato foram os que mais me tocaram, em especial uma passagem entre Brunhilde e Siegfried, quando ela o encontra pela primeira vez. Vou parar por aqui porque não quero cometer nenhum spoiler.
Saí do livro deixando para trás o reino da mitologia germânica e aterrissei, diretamente, no século XXI. Parece que no quesito “perder a virgindade” ainda estamos do lado de lá – em um século tão lá atrás que seria impossível data-lo - isso, se acreditarmos que essa tal virgindade era sinônimo do estado que as pessoas detêm, antes do seu primeiro o ato sexual.
Talvez eu, você e muitas (muitas!) outras pessoas nesse mundo à fora sejamos virgens...
Pela primeira vez me vi revisando esse conceito e, sinceramente, não sei se os deuses germânicos estavam preocupados com isso. O que li foi uma outra possibilidade de emprego para a palavra virgindade. E posso te afirmar, nessa nova possibilidade talvez eu e você e muitas (muitas!) outras pessoas nesse mundo à fora sejamos virgens.
E, claro, foi impossível não pensar na tecnologia como um meio de ressignificar todo esse conceito. Hoje, é através da tecnologia – muitas vezes – que podemos e nos permitimos ser a expressão mais autêntica do nosso ser. Através dela podemos ser mais fieis a nós mesmo, independente do julgamento que o outro fará sobre nós.
Também é através da tecnologia que podemos deixar de sermos “maria vai com as outras”. Pensa só, temos a cada dia que passa, mais e mais acesso, fazemos cada dia mais e mais conexões. A tecnologia, daqui a pouquinho, vai ser a própria materialização da lei quântica:
só vamos atrair aquilo que nós já somos.
Tudo vai estar tão disponível, tão acessível que vamos precisar entregar e doar às nossas redes de conexões o mais autêntico do nosso ser, se não, o que vamos atrair?
Foi a partir daí que as peças do quebra-cabeças dessa nova virgindade começaram a se encaixar.
Estamos entrando na adolescência da quarta revolução industrial, da era da robótica. E doi ser, daí vem o verbo adolecer. Dói chegar na essência, adolescência. E não é esse o período da vida que passamos a nos aproximar do tema virgindade?
Precisamos, nessa fase da adolescência é reencontrarmos a nossa virgindade. E nossa virgindade esta protegida pela couraça da vulnerabilidade. Reconhecer e romper os padrões do poder, do medo e do “meu” que geram tanto apego é necessário, é oldfashion, não cabe mais no futuro desta era que já começou uns anos atrás. Já passamos da fase infantil, do follower, estamos dentro da adolescência, a fase dos grupos, das tribos, dos fellows, nos agregaremos aos nossos semelhantes.
Revirginizar-nos, abrirmo-nos a nós mesmos, reconectarmos com quem somos. Vulnerabilidade é a virgindade do século XXI.
É atravessando a vulnerabilidade que podemos reacessar o frescor, a pureza e fazer brotar o potencial máximo de florescimento. O adubo que fertiliza essa terra inexplorada do ser, que nos ajuda e nos ampara à realizarmos esse movimento – de dentro para fora - será, cada vez mais a tecnologia. Fazendo uma analogia com a obra de Wagner, a tecnologia é o próprio anel nibelungo, dentro Rio Reno, seu habitat natural, ele consegue dar fluxo às águas e operar doando e fertilizando em sua máxima potência e, fora dele, do seu propósito, deixa de exercer sua missão, só causa dor, desejo de poder, megalomania e sofrimento.
Façamos bom uso de toda essa fertilidade tecnológica que temos, e teremos, utilizemos esses recursos para aflorar-nos.
Não faz muito mais sentido dizer: eu tenho algo que desconheço e que é puro e fresco, que preciso descobrir, fecundar, para que germine e floresça?
Não sei você, mas para mim essa foi uma das descobertas mais excitantes dos últimos tempos.
Apodere-se,
Vulneralizi-se,
Virgini-se,
Floresça,
Torne-se o que você, é.
O #tamojunto nunca fez tanto sentido.