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‘A ciência não mata Deus’, afirma físico brasileiro Marcelo Gleiser

O prêmio Templeton, que recompensa a cada ano uma personalidade que explora “a dimensão espiritual da vida”, foi concedido nesta terça-feira (19) ao físico teórico brasileiro Marcelo Gleiser, que se esforça para mostrar que a ciência e a religião não são inimigas.

O professor de Física e Astronomia, especializado em Cosmologia, nascido no Rio de Janeiro há 60 anos e que mora desde 1986 nos Estados Unidos, não acredita em Deus. Ele é agnóstico.

“O ateísmo é inconsistente com o método científico”, afirmou Gleiser à AFP na segunda-feira no Dartmouth College da Universidade de New Hampshire, onde é professor desde 1991.

“O ateísmo é uma crença na não-crença. Então você nega categoricamente algo contra o qual você não tem provas”, acrescentou.

“Mantenho a mente aberta, porque entendo que o conhecimento humano é limitado”, completa o cientista.

O prêmio Templeton é financiado pela fundação do falecido John Templeton, um americano presbiteriano que fez fortuna em Wall Street. Dotado com 1,1 milhão de libras esterlinas (quase 1,5 milhão de dólares, 50% a mais que o Nobel), já foi recebido desde 1973 por Desmond Tutu, o Dalai Lama, filósofos, outros astrofísicos, Alexander Solzhenitsyn, entre outros.

Com cinco livros em inglês e centenas de artigos em blogs e na imprensa dos Estados Unidos e do Brasil, Gleiser explica de que maneira ciência e religião estão direcionadas para responder perguntas muito similares sobre a origem do universo e da vida.

“A primeira coisa que você lê na Bíblia é uma história da criação”, afirma. Judeus, cristãos, muçulmanos: independentemente da religião, “todos querem saber como o mundo surgiu”.

Esta curiosidade fundamental, científica ou religiosa, leva, sem dúvida, a respostas diferentes. O método científico é feito de hipóteses refutáveis, o que não acontece com as religiões.

“A ciência pode dar respostas a certas questões, até um certo ponto”. O que são o tempo, a matéria, a energia? As respostas científicas são válidas apenas em um âmbito teórico.

“Este é um problema conhecido na filosofia por muito tempo, chamado de problema de primeira causa: ficamos presos”, afirma Gleiser, pai de cinco filhos.

“Devemos ter a humildade para aceitar que estamos cercados de mistério”.

– “Arrogância” científica –

Gleiser já escreveu sobre mudança climática, Einstein, furacões, buracos negros, a consciência… Seu credo é rastrear os vínculos entre a ciência e as humanidades, incluindo a filosofia.

O que ele pensa dos que acreditam que a Terra foi criada em sete dias?

“Eles consideram a ciência como o inimigo, porque têm um modo muito antiquado de pensar sobre ciência e religião, no qual todos os cientistas tentam matar Deus”, disse.

“A ciência não mata Deus”, completa.

Gleiser lamenta que os “novos ateus” tenham ampliado a distância com a religião, especialmente o cientista britânico Richard Dawkins (que pediu a prisão do papa Bento XVI pelos casos de pedofilia na Igreja católica), ou o falecido jornalista Christopher Hitchens, que criticava a Madre Teresa (a primeira a receber o prêmio Templeton).

Para Gleiser, que cresceu na comunidade judaica do Rio de Janeiro, a religião não é apenas a crença em Deus: dá um senso de identidade e comunidade.

“Ao menos metade da população do planeta é assim”.

“É extremamente arrogante para os cientistas descer de suas torres de marfim para fazer estas declarações sem compreender a importância social dos sistemas de crenças”, opina.

“Quando você ouve cientistas muito famosos fazendo declarações como … a cosmologia explicou a origem do universo e de tudo, e nós não precisamos mais de Deus. Isso é um completo nonsense”, acrescenta.

“Porque nós não explicamos a origem do universo em absoluto”, conclui.

Via NPR


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