Eu não tenho medo.
Não tenho medo do futuro do nosso país. Não tenho medo do que pode acontecer se A ou B ganharem as eleições.
Eu vejo o Brasil como uma família em crise.
O pai brigou com a mãe. A mãe tem mágoas do filho. O filho tem raiva da irmã. A irmã odeia o pai.
Por muitos anos sempre foi assim. Mas nunca ninguém falou nada.
Eles conviviam, morando juntos na mesma casa, mas com todas essas emoções guardadas dentro de si.
Até que chegou um dia em que um não aguentou mais. Abriu a boca e começou a falar tudo o que sentia. Toda raiva guardada veio à tona.
Como numa reação em cadeia, todo mundo se sentiu no direito e à vontade para falar o que estava guardado, tudo que não gostava, tudo o que incomodava. Um apontando o dedo na cara do outro. Revelando toda a mágoa e toda a raiva que sempre esteve ali. Só não era expressado.
E assim se seguiu durante um tempo. Algumas horas. Alguns dias. Algumas semanas.
Era muita coisa guardada. Muitos anos de emoções contidas. Cada um sabia exatamente o que o outro deveria fazer, deveria ter feito e o que faz de errado.
Até que o primeiro que falou, esgotou o que tinha para dizer. Caiu no choro. Um choro que estava guardado ali fazia muito tempo. Lágrimas que há muitos anos imploravam para sair.
Um choro de tristeza. Um choro de raiva.
O choro trouxe alívio. Trouxe um instante de paz.
Por debaixo dessas lágrimas, descobriu que sentia amor pela sua família.
Sentindo essa emoção, todos choraram juntos.
O choro da compaixão.
O choro do perdão.
Por debaixo de toda a raiva, existia amor.
Um amor gigantesco pela família.
Se abraçaram. Choraram juntos.
E um sorriso emergiu.
Ela tentou segurar o sorriso, para mostrar que ainda tinha raiva. Mas o sorriso foi mais forte.
Uma risada aconteceu.
Todos riram juntos.
Se abraçaram.
E o amor voltou a ser a única força existente ali naquela família.
É assim que eu vejo nosso país.
Eu posso ter mágoas com o candidato que você escolheu.
Posse sentir raiva de você por apoiar esse partido.
Posso não conseguir compreender porque você age assim e como pode acreditar nisso.
Mas por baixo de tudo isso está uma vontade gigantesca que sinto de viver em paz. De viver bem. De que minha vida seja boa. E que a vida dos meus amigos também seja boa.
Um desejo real e verdadeiro de que a gente possa ser feliz, que a gente possa estar em paz e de que a gente possa ser livre.
Por isso eu não tenho medo.
Existe uma confiança na vida que nunca nos abandona. Uma confiança de que não existe erro. Não existe caminho sem volta.
Não importa o que aconteça. Não importa quem vença as eleições, essa raiva vai passar.
E vamos lembrar do amor que sentimos pela nossa terra. Pela terra que recebeu nossos antepassados. Pela terra que nos ensinou a ser quem somos.
Somos brasileiros.
Somos uma única família.
Pode demorar um pouco mais. Mas não tenho pressa.
Depois que tudo for falado. Depois que tudo for expressado. Depois que tudo for liberado, sentiremos alívio.
Sentiremos paz.
E o amor vai ser a única coisa que vai restar.