Foi com essa verdadeira chulapada de pergunta de uma criança à sua mãe que comecei a minha imersão na comunidade quetzal com o pessoal da Casinha Amarela para aprender sobre educação autônoma — A educação sem escolas.
Educação Sem Escolas
Obs: A educação sem escolas, diferente do que muitos questionam, não está sempre conectada a substituição dos professores pelos pais, mas sim na liberdade de escolha para que as crianças se tornem simplesmente quem elas já são.
Complexo né? Explico.Mas para explicar é necessário retornar de 200 anos e entender como as coisas chegaram ao ponto que chegaram e porque agora tudo está virando de cabeça para baixo.
Por que vivemos como vivemos?
Há +- 200 anos atrás não existiam as escolas no formato que são hoje. A palavra desemprego também tão pouco fazia parte da nossa vida e consequentemente buscar um trabalho de 8 horas por dia não era uma premissa, pois não existiam.
As cidades não eram segmentadas em local de trabalho, lazer e lar e, por consequência, não existia transito. Além disso a vida não era dividida entre crescer, estudar, trabalhar e aposentar.
É engraçado como que tudo isso que vivemos que parece tão racional exista há tão pouco tempo para determinar como a forma inquestionável de nos organizarmos.
Curiosidade:
Voltando a falar de trabalhar 8 horas por dia. Os primeiros empregos criados eram empregos totalmente manuais que faziam parte de uma linha de produção em indústrias. E em uma conta básica, se eu tenho uma fábrica que produz 100 produtos por mês e quem constrói o produto são pessoas, preciso garantir que eles trabalhem o mesmo tempo todo mês para poder ter a mesma quantidade de produto para serem vendidos. Assim, me parece fazer sentido trabalhar a mesma quantidade de tempo. Mas quando você tem a maioria de empregos desse tipo sendo substituídos pela tecnologia, por que isso não deve ser questionado?
A ascensão da lógica, repetição e o padrão dos futuros brilhantes:
Com o crescimento das primeiras indústrias e o baixo desenvolvimento tecnológico da época, a maneira de crescer uma empresa era com a contratação de pessoas para estarem na linha de frente da produção. Um trabalho repetitivo que busca unicamente braços e não opiniões, cérebros e criatividade.
Quanto menos as pessoas forem pessoas, melhor.
Dar mais importância a habilidades racionais conectadas ao lado esquerdo do cérebro fazia sentido em um mundo onde crescer na vida está ligado diretamente ao seu sucesso nas indústrias.
E foi nessa sociedade industrial que o modelo educacional que vivemos hoje foi desenvolvido e replicado rapidamente para atender a necessidade das fábricas. Pessoas criadas para serem utilizadas como mão de obra e em troca receberem dinheiro. O que teoricamente trazia felicidade.
E isso só podia dar merd@… e deu
É por isso que hoje seus sucos de caixinha tem menos suco que outros ingredientes; seus produtos congelados são uma bosta; alimentos são feitos em laboratórios; eletrônicos não tem duração; carros são de baixa qualidade; brinquedos são tóxicos e por ai vai muita coisa…. Pois em universos onde não existe diversidade de pensamento e o que está em ascensão é a lógica, as decisões são baseadas no lucro e redução de custo sem ao menos considerar o fator “para quem e por que eu faço esse produto!?” nas suas decisões. E é muito estranho pensar que essas mesmas indústrias foram criadas por terem, no início, produtos ou serviços que satisfaziam a real necessidade das pessoas. Estranho não!? O.o
Eu não sei como, mas em pouco tempo o mundo todo já entendia que, se você estudasse, conseguisse uma capacitação, você conseguiria um emprego, iria crescer profissionalmente e consequentemente terá dinheiro e assim se tornaria case de sucesso.
A crise chega de voadora. E não é financeira
De um lado, profissionais formados questionando todos os dias os motivos de fazerem o que estão fazendo. Do outro, jovens formando sem ao menos entender o porquê estão usando Beca.
Entreviste meia dúzia de estudantes em uma faculdade, pergunte para eles o que estão fazendo, o que mais gostam, dê opções para escolherem o que fazer. Suas decisões são tomadas literalmente pelo que acreditam que será bom para as empresas. Pergunte quem ele é e ele não saberá dizer.
Não os julgo, afinal, foram treinados a vida toda para isso. Para alcançar a grande realização que todos almejam.
Mas como dizia Jorge Aragão:
“Aí foi que o barraco desabou!”
Bem na sua vez de ganhar dinheiro o jogo esta mudando. Bem na hora que formou, pronto para conseguir o que todos falam que é o objetivo, o que todos esperam de você a receitinha de bolo que você seguia de como viver a vida não funciona mais. Não é mais assim que a banda toca.
O desenvolvimento tecnológico chegou em um nível tão alto que as funções de semanas atrás perdem a utilidade. Que o que pessoas fizeram por 20 anos consecutivos não tem mais objetivo nenhum. E que toda e qualquer função que possa ser substituída por uma tecnologia será substituída.
Mas calma, não é o fim do mundo
Na verdade, na minha concepção é o recomeço. Um recomeço com muito mais propósito e com muitas oportunidades.
O grande problema é que as oportunidades são para
gente que é gente de verdade.
Coisa que hoje parece que é o que mais falta.
E ser gente é simplesmente SER
Cada ser humano que nasce já é completo em si! É um ser totalmente diferente de qualquer um, tem seus gostos, anseios, desejos, medos, habilidades e todas as outras complexidades de um ser humano qualquer.
E diferente de poucos anos atrás onde criamos um padrão de ser humano perfeito e esperávamos que todos deveriam se enquadrar nesse perfil, o que mais se quer agora é que a diversidade reine em todos os lugares e que as pessoas busquem o que as completa de verdade.
E para isso, facilitar o acesso ao desenvolvimento de todas as inteligências e habilidades de forma igualitária é essencial. Só assim teremos pessoas completas e diferentes umas das outras. Ao invés de uma grande reunião chata com pessoas que pensam da mesma forma.
Só assim conseguiremos resgatar a autonomia da escolha que consequentemente ajuda no resgate da essência de cada um.
Por isso, cada vez se faz mais desnecessário e sem sentido grades curriculares padrões em um mundo onde todos são tão diferentes. E cada vez mais desnecessário que a sociedade e as famílias criem expectativas sobre vidas que nem são as suas.
E cada vez mais necessário que qualquer decisão seja abraçada com amor entendendo que o melhor caminho é o caminho que deveria ser.
O que você acha? :)
Publicado originalmente no Medium