Os novos tempos exigem que o educador enxergue o aluno de forma integral, crie significados na aprendizagem e preserve a diversidade
Educador, mentor, mediador, curador. As recentes denominações atribuídas ao professor são um indicativo de que a profissão está em fase de transição. Sai o docente que apenas transmite conceitos e definições — afinal, o Google está aí para isso —, entra em cena aquele que se dedica a orientar, criar significados e a contextualizar conhecimentos. Num mundo como o nosso, repleto de transformações econômicas, tecnológicas e sociais, é natural que a dinâmica da sala de aula também passe por mudanças. E cabe ao professor acompanhá-las. Mas será que o docente chega à escola ciente de todas essas transformações na carreira dele? De acordo com Miguel Thompson, diretor do Instituto Singularidades, é das faculdades o papel de preparar o futuro professor para assumir suas novas funções.
“É preciso deixar claro que ele deixou de ser um expositor. Diante desse manancial de informações que temos à disposição, o educador agora é quem organiza as trilhas para a aprendizagem, cria conexões reais para o conhecimento.”
Para dar conta, o educador precisa desenvolver as competências que posteriormente terá de passar para os alunos, como criatividade, comunicação, pensamento crítico e habilidades de investigação e de análise. A partir delas, fica muito mais fácil enxergar o aluno (e seu processo de aprendizagem) de maneira integral.
“A criança é racional, mas também é emoção e valores. Quando o docente trabalha de maneira afetiva, colaborativa, com empatia e reflexão, ele estimula nela o desejo de criar significados”, explica Miguel.
O diretor da Faculdade de Educação da USP, Marcos Neira, aponta que é preciso entender a função docente em seu contexto mais amplo. “Ele deve ter uma postura a favor das diferenças, sejam elas sociais, étnicas, de gênero ou de orientação sexual. E compreender que a escola é um lugar democrático, para todas as crianças, e que no momento da aprendizagem cada uma olhará para o novo a partir de suas experiências anteriores.”
Propostas que vão ao encontro dessas ideias norteiam os pilares dos cursos de graduação referências no mundo. A escola de educação de Harvard, nos Estados Unidos, pegou emprestada a metodologia dos cursos de negócios para implementar uma pedagogia baseada em estudos de casos, na qual qualquer tema merece o debate, para se refletir sobre as melhores experiências de aprendizagem. No mesmo país, a faculdade de Educação da Universidade de Michigan possui uma proposta pedagógica voltada a capacitar o futuro professor para saber lidar justamente com a diversidade e entender o aluno de forma integral. Já a Universidade de Helsinque, na Finlândia, país que coleciona invejáveis indicadores de educação, foi uma das pioneiras a substituir o ensino segmentado em disciplinas pelo organizado a partir de competências, além de encorajar o uso de ferramentas digitais em sala de aula. No Brasil, essas ideias inovadoras começam a ganhar mais espaço. A versão preliminar da Base Nacional de Formação Docente, por exemplo, propõe a revisão das diretrizes de formação dos cursos de Pedagogia e Licenciatura do Brasil, a fim de melhor preparar o professor para a nova realidade da sala de aula. O documento sugere a reformulação curricular, a formação do docente pela prática e o desenvolvimento pleno de suas competências.
Características do Professor do Futuro
Acolhimento: O professor deve cultivar o afeto e o respeito e acolher a diversidade dos alunos.
Conexão com o conhecimento: Responsável por organizar as trilhas de aprendizagem, o docente deve conhecer e se atualizar sobre a sua disciplina.
Olhar Integral: Enxergar as múltiplas dimensões dos alunos ao longo da vida escolar.
Escuta ativa: Ouvir, de verdade, as dúvidas e anseios dos estudantes é muito importante para o trabalho docente.
Comunicação: Ao se comunicar bem, o professor pode ajudar na resolução de conflitos e trazer assuntos novos.
Teoria x prática
Isso não significa, porém, deixar a teoria de lado. “O professor precisa conhecer profundamente a disciplina ou o conteúdo que ministra. Precisa, ainda, estar interessado nas atualizações que a disciplina apresenta e dominar os métodos didáticos para ensiná-la”, diz Marcos. O entendimento das universidades públicas brasileiras e também da Base Nacional de Formação Docente é que se faz necessário ter um equilíbrio e uma profunda correlação entre teoria e prática ao longo da formação do educador. “Esse novo profissional precisa, sim, ter o conhecimento teórico bem fundamentado. Mas ele tem de fazer estágio na escola para conhecer de perto os contextos reais”, afirma Cleuza Repulho, especialista em educação e gestão pública. Ela ressalta que um dos grandes problemas é que este modelo não está sendo amplamente discutido nas faculdades privadas, onde se graduam quase 90% dos professores da rede de ensino do país. “É preciso falar mais sobre isso com essas instituições. Não dá para formar o docente só a distância. Depois, como ele vai lidar com o conhecimento no dia a dia da escola?”
Na USP, onde os cursos de Licenciatura e Pedagogia são famosos pela sua densidade teórica, todos os alunos realizam atividades de estágio em instituições do ensino básico, parceiras da universidade. Nas chamadas escolas-campo, eles experimentam a sala de aula, participam da elaboração de projetos pedagógicos e vivenciam na pele os gargalos no ensino público. Desde 2009, a Faculdade de Pedagogia da Unifesp mantém um programa similar. A partir do quinto semestre, os estudantes iniciam uma residência pedagógica em escolas da rede municipal, também por meio de parceria com a universidade. Cada eixo do programa – educação infantil, gestão escolar e educação de jovens e adultos, entre outros – é desenvolvido semestralmente, com um mês de imersão na instituição de ensino com a mentoria de um professor local e de um docente da faculdade. “Essa vivência é um choque de realidade, de sala de aula e de escola pública. Ali eu participei das horas de estudo, de discussões sobre ações e planos pedagógicos e de reuniões quinzenais com a equipe. E pude ver, por exemplo, como é fácil planejar uma aula com nossa bagagem teórica e então perceber que ela nunca funcionaria na prática”, conta Juliana Andrade, que se graduou na Unifesp e leciona em Guarulhos desde 2017. Como uma via de mão dupla, os mentores também se beneficiam com o programa, uma vez que ele estimula a troca de ideias e a constante atualização dos processos pedagógicos. “O residente traz um olhar novo. No ano passado, um residente notou que eu estava gastando muito tempo para acalmar os alunos no início da aula e me sugeriu uma atividade ligada à música. Algo que eu nunca havia pensado e que deu super certo”, relata Lidiane Chaves Zeferino, professora com 15 anos de profissão e hoje vice-diretora de uma escola municipal de Guarulhos.
Professor também estuda
De acordo com a pesquisa Profissão Docente, realizada em 2018 pelo Todos pela Educação, 71% dos docentes avaliam como insuficiente sua formação inicial. Eles apontam que não foram bem preparados com conhecimentos sobre gestão de sala de aula (22%) e fundamentos e métodos de alfabetização (29%). Ou seja, sentem falta justamente da parte prática. Isso faz com que a formação continuada também ganhe bastante relevância na discussão atual. “Sinto que o professor tem vontade de aprender mais. O difícil é conseguir encaixar isso em sua jornada. Faltam políticas públicas que ofereçam instrumentos legais a dar acesso a uma constante atualização”, diz Cleuza Repulho. Há alguns casos em que o município testa alternativas dentro de suas instituições de ensino. De 2015 a 2017, a rede municipal de Osasco (SP) firmou uma parceria com o programa Líder em Mim, da Somos Educação, cuja proposta é ajudar a estruturar o currículo escolar com um olhar socioemocional. E o primeiro passo é a formação dos docentes. “A partir de uma imersão, tentamos quebrar aquele paradigma de que há aluno bom e ruim, porque se ele não acredita que cada um tem um potencial, o aluno percebe.
Depois, seguimos desenvolvendo autonomia, comunicação, resolução de conflitos, flexibilidade e afetividade. As mesmas aptidões e competências que eles terão de usar em seus projetos pedagógicos para preparar o aluno para o futuro”, explica Morgana Batistella, gerente do programa, que neste ano está sendo aplicado em Santo Antônio do Pinhal (SP). Quando falta incentivo da rede pública, muitos educadores buscam por conta própria caminhos para renovar os conhecimentos. E as universidades públicas apresentam-se como boas opções para isso. Formado há nove anos e professor de Educação Física em São Paulo, Luiz Alberto dos Santos encontrou na USP uma oportunidade de se atualizar. Por meio do Programa de Extensão à Rede Pública da Faculdade de Educação, Luiz cursou uma disciplina da Pedagogia sobre metodologias de ensino. “Tive a chance de discutir assuntos novos e de estudar a teoria pensando em sua aplicabilidade”, explica ele, que se esforçou bastante para ir a todas as aulas. “Não dá para dizer que é fácil, principalmente se você tem uma dupla jornada. Mas os ganhos são enormes.” A cada semestre, o programa disponibiliza vagas em diferentes disciplinas para que qualquer professor da rede pública se inscreva. “Isso é muito rico, porque o professor nunca fica pronto. A sociedade sempre apresenta novos desafios que nos obrigam a nos reinventar”, ressalta Marcos Neira.
As 6 habilidades do professor do futuro
É verdade, o século XXI já está por aí há uns bons anos, mas estamos vendo tudo mudar tão rápido que parece que há pouco tempo começamos a “apertar o passo” quando o assunto é educação.
Uma das dificuldades de acompanhar essa transformação está na insistência de um modelo mental que acredita no professor como detentor de conhecimento, enquanto os jovens deste século são soterrados por novos conhecimentos a todo o momento, vindos de todas as partes.
O papel do educador mudou e, por isso, as competências exigidas dele pela Educação 4.0 também. Como todo profissional, é preciso se adaptar desde já.
Entenda quais são as habilidades do professor do futuro e como esse gargalo geracional pode ser reduzido para termos alunos mais engajados e que aprendam melhor:
1. Assumir diferentes papéis
O professor que acompanha a Educação 4.0 deve ser flexível, perceptivo e promover um ambiente empreendedor e criativo. Isso significa transitar entre diferentes papéis que propiciam o aprendizado autônomo em todas as situações:
- Ser um facilitador, ao prover as condições adequadas para que alunos desenvolvam pensamento crítico, sigam suas próprias linhas de raciocínio e reparem seus próprios erros;
- Ser um mentor que conheça e motive cada criança individualmente, conectando as atividades em aula com suas ambições, valores e objetivos pessoais;
- Ser um mediador, que ligue os pontos entre diversas disciplinas, recursos e situações, facilitando portanto a assimilação e aplicação de novos conhecimentos;
Ser um aprendiz para, além de dar suporte à jornada de aprendizado de cada aluno, renovar suas práticas, crenças e se desenvolver junto aos alunos.
2. Liderar
Autoridade em sala de aula ficou no século passado. Não se pode ordenar colaboração e respeito — é preciso conquistar a confiança e o comprometimento dos alunos.
Um bom líder é aquele que dá um bom exemplo, escuta o outro ativamente, é capaz de explicar o que é esperado de seus liderados como indivíduos e a relevância da direção que se está sendo tomada como grupo, sem impôr a maneira com que se chega lá: cada um tem autonomia para traçar seu caminho, desde que tenham na mira os objetivos coletivos pré-estabelecidos.
3. Abrir-se para novos projetos
As metodologias ativas têm se consolidado como uma estratégia pedagógica, tanto para o desenvolvimento de competências dos alunos, como para quebrar com o conceito tradicional sobre o que é ensinar.
É responsabilidade também do professor estar aberto a essa quebra de paradigma, dialogar com diferentes iniciativas para estimular o protagonismo do aluno e aplicar métodos e modelos mais inovadores.
Entre eles estão os Espaços Maker, as salas de aula invertidas, a aprendizagem entre pares e times (Team-based Learning), a aprendizagem baseada em problemas (Problem-based Learning) — todos os quais exigem do educador o dinamismo e a criatividade para gerar ambientes inventivos, colaborativos, e que tenham o aluno como agente de seu próprio processo de aprendizagem.
4. Curar conteúdo
Praticamente toda informação é acessível hoje em dia, o que ajuda muito nossa missão de desenvolver o protagonismo dos alunos. Contudo, infelizmente, é muito fácil se perder no submundo das ‘fake news’ ou confundir fato com opinião. É preciso saber discernir o que é realmente relevante, e ensinar estudantes a fazerem o mesmo.
Pense no professor como um clínico-geral: todo mundo pode buscar sintomas no Google e encontrar uma lista de doenças possíveis, mas é o médico que vai analisar o paciente com cuidado e orientar o que faz sentido como tratamento.
O professor deve ser capaz de filtrar o que faz sentido como conteúdo e método de aprendizagem. É com base em um diagnóstico cognitivo que ele entende como cada aluno absorve conhecimento melhor e personaliza esse aprendizado para garantir que o processo conte com ferramentas eficazes e informações verdadeiras e pertinentes.
5. Ser interdisciplinar
Aproximar uma temática da realidade do aluno é chave para ajudá-lo a absorvê-la. É por isso que limitar-se a ensinar a ementa apenas de sua disciplina não será tão eficaz quanto estabelecer transversalidade entre todas elas e contar com áreas de conhecimento variadas em cima da solução de um problema.
O professor deve saber, portanto, como relacionar diferentes olhares em torno do que pretende ensinar, estimulando a interação entre os alunos, bem como deles com outros professores e com a comunidade.
É preciso mostrar todas as aplicações daquele novo conhecimento e considerar que ele pode influenciar ou ser influenciado pelo mundo externo e por outras matérias.
Isso não significa apenas cruzar Matemática com Biologia e Artes, mas explicar como utilizar determinado aprendizado como instrumento no dia-a-dia, explorar os novos recursos e ferramentas, trabalhar com as diversas facetas do processo de estudo e tangibilizar sua relevância.
6. Desenvolver competências socioemocionais
Para educar alunos preparados para o século XXI, é imprescindível estimular o desenvolvimento de competências ligadas à inovação, como empatia, colaboração e autonomia. Cabe ao professor ajudar sua classe a gerenciar emoções, incentivar o respeito mútuo, valorizar a perspectiva do outro, a diversidade de contextos e inteligências.
No entanto, isso também exige que o próprio educador esteja em contato com suas emoções e mantenha suas habilidades em constante evolução.
No final das contas, essa é uma das habilidades principais do professor do futuro: estar à frente de seu desenvolvimento, aprender junto, e se reinventar a cada dia.
O papel do professor diante das novas tecnologias no processo educativo
Já é consenso que a chegada da Era Digital na Educação traz perspectivas inéditas para o processo de ensino-aprendizado. Porém, um recente relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostrou que o desafio de inovar e de incorporar novas ferramentas para o ensino vai além da infraestrutura e carece de uma total revisão dos modelos pedagógicos. Ou seja, para que a inteligência artifical cause real impacto na educação é preciso muita inteligência humana para criar as conexões que darão sentidos práticos aos conteúdos aprendidos com auxílio da tecnologia seja na escola ou fora dela. E é justamente neste ponto que o papel do professor, muitas vezes desacreditado no contexto da Era Digital, se torna imprescindível. “Os docentes precisam ser os protagonistas dessa mudança e não apenas implantadores de softwares. Se isso não acontecer, colocar a tecnologia na frente dos alunos não vai fazer muita diferença”, diz o diretor da divisão de educação da OCDE, Andreas Schleicher.
Mas, por que mesmo com tantos recursos inteligentes cada vez mais disponíveis o professor segue sendo primordial na educação? Acompanhe em mais um artigo da Série Tecnologia na Educação.
O professor será substituído pela tecnologia?
Desde que as novas ferramentas foram introduzidas no ensino, há uma crença equivocada de que o professor estaria na lista das profissões a serem extintas em um futuro não tão distante. Isso porque, se antes o docente era tido como o mestre que dominava o conhecimento e só através dele se tinha acesso a um determinado conteúdo, hoje, na era da informação, tudo está disponível na Internet à distância de um clique. E essa democratização de acesso a dados e informações vem transformando a atuação e as expectativas relacionadas ao trabalho dos docentes.
Se o cenário todo mudou, o que se espera é que os professores não tenham a mesma postura e o mesmo comportamento que funcionava no passado, certo? Em teoria, sim, mas essa ainda não é a realidade de grande parte das escolas, que precisam ajudar os docentes constantemente nesse processo de quebra de paradigmas de algo tão consolidado como o antigo modelo de ensino-aprendizado.“O grande desafio é fazer do professor o mediador de conteúdos aliando o uso da tecnologia, para sair de sua zona de conforto e introduzir nas práticas em sala de aula a utilização de novas ferramentas para o ensino do conteúdo programático”, avalia Sergio Ferreira do Amaral, líder do Laboratório de Inovação Tecnológica Aplicada na Educação da Faculdade de Educação da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
A maioria das instituições de ensino está vivenciando o momento de transição desse processo, quando é natural haver conflitos mais latentes, dado às diferentes gerações que convivem hoje em uma mesma escola – professores, em sua maioria, da Geração X (ou anteriores a ela) facilitando o conhecimento para estudantes da chamada Geração Millenium que, por sua vez, são filhos de pais da Geração Y. E, claro, atender as expectativas e angústias de públicos tão diversos não é uma tarefa fácil.
Para que essa transformação no ofício do professor aconteça de uma forma mais saudável e harmoniosa, é preciso haver também uma mudança de perspectiva de toda comunidade escolar, incluindo pais e alunos, sobre qual é o papel da escola na formação de cidadãos prontos para o século XXI. Na prática, isso significa dizer que, ciente de que informação não é conhecimento e que um aluno exposto a uma avalanche de dados sem nenhuma curadoria ou contexto não chegará a aprendizado algum, a escola precisa auxiliar esse estudante a filtrar, interpretar e transformar tanta informação em conhecimento. E o que se espera atualmente do professor é que ele seja, justamente, esse facilitador, fazendo dados ganharem relevância e, assim, virarem aprendizado.
Quais habilidades esperar de um professor/curador?
Na perspectiva do velho modelo educacional, mudavam-se os alunos, mas o conteúdo e a forma como eram apresentados os conteúdos eram praticamente os mesmos. Entretanto, o professor do século XXI , ao sair da função estática de transmissor de conhecimento, precisa ter uma atuação mais dinâmica e fluida selecionando o que é pertinente saber e que ajudando os alunos a desenvolverem habilidades como pesquisa, comparação, compreensão, análise crítica e conexão. Seu papel inclui também conscientizar os estudantes para um uso saudável dos recursos tecnológicos, acompanhando-os, monitorando e viabilizando trocas de discussão, de ideias e de experiências para a construção de saberes cada mais colaborativos. A busca por dar autonomia e por promover modelos de aprendizado que levem em conta características individuais dos estudantes também estão no hall de competências esperadas dos docentes.
Além disso, é necessário que eles estejam preparados para lidar com os conflitos emocionais e éticos que podem surgir neste contexto do ensino digital, uma vez que a sala de aula terá uma porta aberta para “a rua do mundo”, que é a Internet, e assim, passa a ser um espaço de interação com um universo externo que foge do controle formal da escola.
Como os gestores podem ajudar os docentes?
Para o diretor da OCDE, somente quando há educadores qualificados que a tecnologia pode elevar a educação para o próximo nível. Isso quer dizer não apenas investir recursos em formação continuada nos moldes mais tradicionais, mas também que o docente mantenha ativo seu “senso de investigação”, tal qual os estudantes. Afinal, seu diferencial não será mais o quanto pode ensinar, mas como ele liga os novos recursos tecnológicos às suas práticas pedagógicas.
“Muito embora grande parte dos professores, na sua formação inicial, não tenham tido contato com os recursos tecnológicos usados hoje nas salas de aula, com o passar do tempo esse professor aprendeu a manusear a tecnologia. Então, o problema é mais de ordem pedagógica: como utilizar, por exemplo, a lousa digital para ensinar Geografia? Que software posso utilizar para melhorar a exposição de conteúdo que envolvam mapas, por exemplo? Como desenvolver práticas em sala de aula para que o aluno seja mais colaborativo, mais ativo no processo de aprendizagem, e ainda, como fazer com que o conteúdo em sala de aula seja direcionado ao interesse individualizado para cada aluno, pois o aprendizagem é individual e não pode ser tratado como se todos aprendessem da mesma maneira?”, reflete o professor Amaral.
Referência mundial em tecnologia na educação, o canadense Tony Bates é autor de 11 livros sobre o tema. Em seu blog, tido como um dos mais importantes na área, ele cita 5 habilidades centrais para os professores da Educação na Era Digital e que podem ser incentivadas pelos gestores e time pedagógico:
1- Comunicação
O especialista defende que os professores precisam desenvolver habilidades de comunicação no geral, mas em especial, em mídias sociais. Compartilhar informações, saber dar e receber feedbacks “em público” e entender a natureza de cada mídia social vai ajudá-los a interagir de forma mais adequada em cada um desses ambientes virtuais. As tradicionais habilidades de ler, falar e escrever de forma coerente permanecem, mas é preciso pensar a comunicação de um jeito mais amplo, em diferentes contextos, formatos e mídias.
2- Trabalho em equipe e flexibilidade:
Colaboração e partilha de conhecimento são palavras de ordem na Era Digital. Isso porque vivemos em um momento tão complexo da história que, para responder aos desafios postos, é preciso combinar conhecimentos de forma coletiva.
“No Japão ou em Singapura, países que têm os melhores índices de educação, os professores usam a tecnologia sobretudo para trabalhar com outros professores e criar redes de colaboração, contribuindo não só para formar seus alunos como para o sistema educacional como um todo”, conta o diretor da divisão de educação da OCDE, Andreas Schleicher.
3- Habilidade de pensamento:
Significa ter pensamento crítico, criatividade e originalidade. É preciso saber operar, criar soluções para além dos manuais padronizados e ter a capacidade de filtrar o que há de positivo e de negativo em meio ao mar de novos recursos.
4- Habilidades digitais:
É saber não apenas operar, mas conectar a tecnologia ao projeto pedagógico da escola ou da disciplina.
5- Ética e responsabilidade:
São elementos indispensáveis em qualquer situação, mas que ganha novos códigos de conduta para se construir uma relação saudável na Internet. Como se proteger na Era da Educação Digital já foi tema de um artigo aqui no Escolas Exponenciais.
Conexão humana
Para além de todas as habilidades que citamos aqui como esperadas do professor na contemporaneidade, uma das suas missões e práticas mais antigas, continua a ser, talvez, sua maior potência. Trata-se do mestre como aquele que desperta a fome pelo saber. Aquele que encoraja seus alunos a desenvolverem e a acreditarem em suas capacidades.
Em um mundo de adultos cada vez mais ocupados, a escola, muitas vezes, é o lugar onde crianças e jovens encontram suporte para lidarem com suas carências, dúvidas e conflitos. E os professores acabam sendo catalisadores desse processo e tem, em suas mãos, o poder de criar conexões transformadoras na vida de cada um dos aluno. E é justamente nesse aspecto, demasiado humano, que o professor jamais conseguirá ser substituído.
Fonte Nova Escola & Escolas Exponenciais