Como foi o 1° teste de transporte futurista que poderia fazer distância Rio-SP em menos de meia hora?
A empresa americana de tecnologia de transporte Virgin Hyperloop fez seu primeiro teste de viagem com passageiros, no deserto em Nevada, nos Estados Unidos.
O conceito de transporte futurista envolve cápsulas dentro de tubos de vácuo que transportam passageiros em alta velocidade.
No teste, dois passageiros, ambos funcionários da empresa, percorreram a distância de uma pista de teste de 500 metros em 15 segundos, atingindo o equivalente a 172 km/h.
No entanto, esta é uma fração das ambições da Virgin para velocidades de viagem superiores a 1.000 km/h. Nesse cenário, seria possível fazer o equivalente à distância Rio-SP em menos de meia hora.
A Virgin Hyperloop não é a única empresa desenvolvendo o conceito, mas nenhuma transportou passageiros antes.
Sara Luchian, diretora de experiência do cliente, foi uma das duas pessoas a bordo e descreveu a experiência à BBC como “estimulante psicológica e fisicamente”, logo após o evento.
Ela e o diretor de tecnologia, Josh Giegel, usaram calças simples de lã e jeans em vez de macacões para o evento, que aconteceu na tarde de domingo (08/11/20) nos arredores de Las Vegas.
Luchian disse que a viagem foi tranquila e “nada parecida com uma montanha-russa”, embora a aceleração tenha sido mais “veloz” do que seria com uma pista mais longa. Nenhum deles se sentiu mal, ela acrescentou.
Ela disse que a velocidade deles foi prejudicada pelo comprimento da pista e pela aceleração necessária.
O conceito, que passou anos em desenvolvimento, se baseia em uma proposta do fundador da Tesla, Elon Musk. Alguns críticos o descreveram como ficção científica.
Ele é baseado nos comboios de levitação magnética (maglev) mais velozes do mundo, tornados mais rápidos pela velocidade dentro de tubos de vácuo.
O recorde mundial de velocidade de trem maglev foi estabelecido em 2015, quando um trem japonês atingiu 374 mph (600 km/h) em um teste perto do Monte Fuji.
Fundada em 2014, a Virgin Hyperloop recebeu investimento do Virgin Group em 2017. Era anteriormente conhecida como Hyperloop One e Virgin Hyperloop One.
Em uma entrevista à BBC em 2018, o então chefe da Virgin Hyperloop One, Rob Lloyd, que já deixou a empresa, disse que a velocidade permitiria, em teoria, as pessoas viajarem entre os aeroportos de Gatwick e Heathrow, a cerca de 70 quilômetros de distância em Londres, em apenas quatro minutos.
A Virgin Hyperloop, sediada em Los Angeles, também está explorando modelos em outros países, incluindo uma conexão hipotética de 12 minutos entre Dubai e Abu Dhabi, que leva mais de uma hora pelo transporte público existente.
Os críticos apontaram que os sistemas de viagens Hyperloop envolveriam a tarefa considerável de obter permissão de planejamento e, em seguida, construir vastas redes de tubos para cada caminho de viagem.
Luchian reconhece as dificuldades potenciais. “É claro que há muita infraestrutura a ser construída, mas acho que mitigamos muitos riscos que as pessoas não pensavam que fossem possíveis.”
Ela acrescentou: “A infraestrutura é um foco muito importante para tantas pessoas no governo. Sabemos que as pessoas estão procurando soluções. Elas estão procurando o transporte do futuro. Podemos continuar construindo sistemas de transporte de hoje ou de ontem e continuar encontrando os mesmos problemas que eles trazem. Ou podemos realmente procurar construir algo que resolva esses problemas.”
Assinado no Rio Grande do Sul estudo para implantação do HyperloopTT
O Rio Grande do Sul pode ter, no futuro, uma rota de transporte em altíssima velocidade que ligue Porto Alegre a Caxias do Sul, na Serra, em 12 minutos. O acordo para um estudo de viabilidade para a implementação dessa tecnologia foi assinado na tarde de terça-feira (19/01/2021) pelo governo do RS, por representantes da Escola de Engenharia da UFRGS e pela Hyperloop Transportation Technologies (HyperloopTT).
“Pode parecer que o acordo seja excessivamente futurista, mas o que pretendemos é cogitar essa possibilidade, analisar essa viabilidade e assim lançar a primeira ideia para que possamos logo adiante confirmar as condições de viabilizar o projeto”, afirmou o governador Eduardo Leite.
A estimativa ainda é virtual, já que leva em conta apenas a distância de 129 km percorrida por um sistema que chega a 1,2 km/h, fazendo em minutos o que um carro leva 1h40min ou um ônibus demora quase três horas. Mas a possibilidade de ter um transporte rápido, seguro e lucrativo anima os envolvidos.
“Muitas pessoas estão entusiasmadas com a velocidade, mas eu acredito que isto [sustentabilidade econômica e ecológica] seja mais importante. Não existe uma ferrovia ou metrô lucrativos no mundo. Dependem de subsídios dos governos. O hyperloop é diferente. Pode ser lucrativo, por ter baixo custo operacional e ser financiado de forma privada”, destaca o CEO da empresa, Dirk Ahlborn.
De acordo com Ahlborn, o maior estudo da empresa em andamento prevê uma rota de 741 km entre as cidades de Chicago, Cleveland e Pittsburgh, nos Estados Unidos. Já a primeira linha comercial deve ser em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes.
“O Brasil tem grande potencial. A serra gaúcha é o polo turístico mais importante do Rio Grande do Sul, gerando mais que R$ 1,5 milhão para economia local, e abriga algumas das maiores empresas do Brasil”, acrescenta.
Como funciona a tecnologia?
O transporte de pessoas ou cargas é feito por cápsulas colocadas em um tubo despressurizado, no qual o ar é retirado para eliminar a resistência. Ela se desloca sobre trilhos em um sistema de levitação com uma velocidade semelhante a de aeronaves.
O motor é movido a partir de energia solar, o que oferece uma característica sustentável à tecnologia.
“Algumas pessoas podem pensar que é ficção científica, mas está acontecendo agora. Estamos trabalhando nos últimos anos para fazer realidade”, diz Ahlborn.
A Escola de Engenharia da UFRGS participa do estudo para verificar a viabilidade técnica, financeira e de sustentabilidade do sistema. A entrega dos resultados deve ocorrer em quatro a seis meses, conforme a diretora Carla ten Caten. O maior desafio, para ela, é definir o traçado.
“Em função da geometria do terreno, de ser acidentado. A ideia é não usar o traçado da rodovia. Mas vai reduzir muito o tempo”, afirma.
A professora crê que 12 minutos de viagem é uma estimativa superestimada, mas que é possível conectar os dois pontos entre 15 e 30 minutos. A contratação prevê a análise apenas para este trecho. Porém, ela acredita que, uma vez finalizado, pode colocar o estado na vanguarda dos transportes no mundo.
“A gente acredita na tecnologia e acredita que vai ter uma viabilidade financeira. Por acreditar nisso, é que a UFRGS entrou no projeto. Estaremos à frente de muitas outras por ser a primeira na América Latina”, projeta.