Quão Complexas são as Relações Humanas?
Você já ouviu falar em digissexualidade? Falar de sexo é falar de um dos impulsos humanos mais poderosos. É falar de um desejo que ocupa uma parcela significativa de tempo no pensamentos de bilhões de pessoas. Como decorrência desse apetite intenso, as mais diversas orientações sexuais surgiram ao longo dos anos. Homossexualidade, bissexualidade, pomossexualidade, pansexualidade, ginossexualidade, androssexualidade, sapiossexualidade, demissexualidade e skoliossexualidade são apenas algumas das orientações sexuais existentes nos tempos atuais, que dão o tom de quão complexas são as relações humanas.Digissexualidade
Contudo, segundo especialistas, estamos prestes a presenciar o surgimento de um novo tipo de orientação sexual: a digissexualidade. À medida que as chamadas “tecnologias sexuais” avançam, sua adoção crescerá e muitas pessoas virão a se identificar como digissexuais. Mas o que significa “digissexualidade”? De acordo com o professor de filosofia Neil McArthur, da Universidade de Manitoba (Canadá), pessoas digissexuais são aquelas cujo apetite sexual é predominantemente satisfeito pelo mundo virtual. Em síntese, são pessoas cuja identidade sexual primária decorre da utilização da tecnologia.Usamos o termo ‘digissexuais’ para descrever pessoas que, principalmente como resultado dessas novas tecnologias mais intensas e imersivas (…) Não necessariamente sentem a necessidade de se envolver com um parceiro humano.E que definem sua identidade sexual em termos do uso dessas tecnologias. – Neil McArthurSegundo McArthur, já estamos vivendo a era do sexo virtual imersivo e, a partir de agora, as “tecnologias sexuais” se tornarão parte integrante da identidade sexual de muitas pessoas. Para ele, as novas tecnologias servirão, para muitas pessoas, como uma alternativa viável aos companheiros sexuais humanos.
Digissexualidade nos cinemas
Embora pouco familiar, o conceito de digissexualidade vem sendo explorado pela indústria do cinema, em filmes como Ela (2013) e Blade Runner 2049 (2017). Em ambos, os protagonistas (Joaquin Phoenix e Ryan Gosling, respectivamente) desenvolvem laços sexuais-afetivos com inteligências artificiais. Na mesma linha, o filme A Garota Ideal (2007), também estrelado por Ryan Gosling, conta a história de um jovem que estabelece um relacionamento não convencional com uma boneca sexual encontrada na Internet. Para Neil McArthur, os três filmes compreendem esse novo tipo de sexualidade:[Os filmes são] os três melhores exemplos da cultura pop, porque todos eles retratam relacionamentos digissexuais de uma forma bastante complexa, e de maneira simpática. – Neil McArthurPor outro lado, a digissexualidade também tem suas representações mais obscuras. Na série Westworld (2016), por exemplo, vemos uma versão mais distópica do conceito, na qual os anfitriões robóticos são projetados exclusivamente para atender às necessidades e desejos (sexuais) dos visitantes.
Um futuro digissexual?
McArthur pretende conduzir um estudo mais amplo sobre os digissexuais, com o objetivo de entender seus comportamentos, desvelar mitos e enfrentar alguns dos estigmas envolvendo o novo tipo de sexualidade. Como o fenômeno é bastante novo, há um risco de que a amostra de pesquisa seja reduzida. O pesquisador reconhece também que as discussões relacionadas à digissexualidade são complexas. O tema envolve debater aspectos éticos e psicológicos de desenvolver relacionamentos sexuais com robôs, bonecas sexuais e inteligências artificiais; bem como discutir os riscos do mal funcionamentos da tecnologia. Embora reconheça que muitas pessoas serão digissexuais no futuro, McArthur não vislumbra que esse novo tipo de orientação sexual prevalecerá. Para ele, a digissexualidade tomará o seu lugar ao lado de outras identidades sexuais não convencionais, e a sociedade prosseguirá normalmente em direção ao futuro.Haverá muitos digissexuais no futuro próximo, mas vai ficar tudo bem. – Neil McArthur
Fonte: Futuro Exponencial